Carta para ONU – Desenhista Fernando Rebouças escreve para Ban Ki-Moon

No mês de setembro de 2013, o desenhista e escritor, Fernando Rebouças, autor da turma do Oi! O Tucano Ecologista escreveu carta para Ban Ki-Moon, secretário-geral da ONU, solicitando maior atenção para a arte e educação na área ambiental e cultural. Sendo a educação ambiental ainda deficitária na vida da maioria das crianças do mundo, principalmente, no cotidiano escolar das mais pobres, e ausente nas ações dos principais líderes políticos que discutem e decidem sobre as questões ambientais atuais. Leiam a carta na íntegra a seguir.

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Rio de Janeiro, 9 de setembro de 2013

Excelentíssimo Sr. Ban Ki-Moon,

Secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas).

Sou Fernando Rebouças, desenhista e escritor de histórias em quadrinhos (comics), desenho e escrevo quadrinhos sobre ecologia, cultura e história com muito bom humor e cores para crianças e jovens.

Sou desenhista autor da turma do Oi! O Tucano Ecologista:

http://www.oiarte.com/

http://www.oiarte.com/englishpage.htm

Como desenhista e escritor, sinto uma imensa falta de  educação e arte ambiental mais inclusiva para as crianças e jovens no mundo, principalmente, nos países emergentes e pobres. Devemos considerar que pessoas de diferentes gerações não tiveram educação e arte ambiental em seus tempos de escola, porém muitas pessoas pelo sentimento de conscientização e preocupação com as questões do meio ambiente buscam o conhecimento ecológico por conta própria nos livros e bibliotecas (como eu), outras pessoas ao sentirem a falta da educação e da arte ambiental em suas vidas buscam esse conhecimento por meio de cursos de especialização ou de pós-graduação, se tornando pós- graduados  em ecologia ou gestão ambiental.

Durante séculos e décadas, diferentes gerações viveram sem ter educação ambiental em suas escolas, em suas casas e em suas vidas  profissionais. Durante a realização de grandes debates e eventos ambientais  organizados pela ONU, percebo que parte das autoridades políticas e líderes de países importantes não tiveram a educação ambiental na infância e na juventude.

Hoje, presidentes e líderes de países, que possuem imensa responsabilidade sobre o aquecimento global, mudanças climáticas, geração de energia, gestão de resíduos e demais assuntos ecológicos de grande importância para a nossa atualidade e futuro, não tiveram o conhecimento ecológico, biológico e ambiental como suporte na formação escolar, acadêmica, política e governamental de suas vidas. Antes de serem presidentes e líderes políticos, essas pessoas não tiveram educação ambiental em seus processos de formação. O mesmo ocorre com boa parte dos investidores;  médios e grandes empresários ,  gestores do setor privado de diversas áreas da economia. Os líderes políticos e gestores do setor  privado  da economia são pessoas hábeis em várias áreas do conhecimento, mas, em boa parte,  ainda analfabetos em ecologia e em mudanças climáticas. Esse é um dos fatores  que comprometem  a conclusão  e a assinatura  de acordos favoráveis ao meio ambiente, às questões climáticas e humanas nos eventos organizados pela ONU.

Não estou generalizando, assim como eu e várias pessoas já buscaram e ainda buscam o conhecimento e a arte ambiental  por conta própria ou por meio de cursos de extensão, acredito que parte dos políticos e gestores privados também estejam fazendo o mesmo. Porém, ao observar o nível de diálogo técnico e representativo dos políticos e gestores privados em nível global, a falta de educação e conhecimento ambiental  é visível , principalmente, em conversas nas quais a repetição de conceitos e objetivos primários é um caso que compromete o  entendimento e a conclusão de objetivos mais maduros para o meio ambiente. As necessidades e obrigações do mercado capitalista sempre ficam em primeiro lugar e não são tratadas como consequência de um melhor comportamento do homem com a natureza.

Além de observar a carência de educação e arte ambiental nas gerações anteriores (que hoje ocupa a liderança política e privada em nossas sociedades), também me preocupo com a ausência desse conhecimento ambiental nas crianças e jovens de nosso tempo. Há muito para ser feito a favor de um maior acesso à educação e arte ecológica para  eles. A quantidade de governos e empresas que, verdadeiramente, patrocinam ou incentivam a educação e a arte ambiental ainda não atende às expectativas e demandas das novas gerações.

Peço que a nossa ONU (Organização das Nações Unidas) diga para todos os países e empresas que os melhores documentos e ações favoráveis ao meio ambiente começam pela educação e pela arte. Ensinar com pesquisa, com diversão, com cores, desenhos e histórias que ampliem e , ao mesmo tempo, simplifiquem o entendimento da ecologia no nosso dia a dia. Arte necessária para gerar sensibilidade e reflexão no novo ser humano e na sua relação com a natureza  e com as cidades.

Apresento as seguintes sugestões:

1 – Educação ambiental gratuita para crianças e jovens, principalmente, para crianças e jovens de  classes sociais menos favorecidas, de países em desenvolvimento e pobres.

2 – Inclusão da educação ambiental em todas as escolas infantis e juvenis do mundo.

3 – Aplicação de arte ambiental  e arte pop ambiental (comics, quadrinhos, animação, jogos e sites especializados) para acesso ao conhecimento ecológico de maneira lúdica e divertida para crianças.

4 – Incentivos para governos e empresas patrocinarem e implementarem projetos de conteúdo educacional e artístico para a oferta do conhecimento ecológico e cultural para crianças e jovens.

5- Responsabilizar governantes, entidades políticas e instituições responsáveis pela gestão pública para por em prática projetos de educação, arte e cultura ambiental para crianças e jovens.

Declarações finais

Como referi no início desta carta, sou desenhista e escritor de histórias em quadrinhos ecológicos (ecology comics), e como artista  já busquei ajuda e patrocínios em diferentes empresas e esferas de governo do meu país (Brasil), porém, enfrento a mesma dificuldade que a maioria dos artistas enfrentam. As empresas não demonstram fácil  interesse em patrocinar ou, pelo menos , avaliar um trabalho artístico que aborda a ecologia e a cultural geral de maneira lúdica. A minha arte em quadrinhos aborda as questões  ecológicas com humor , poesia e seriedade;  crio um material bom para ser lido na hora do lazer, na escola e em família pelas crianças e jovens. Mas, percebo a ausência de iniciativas que apoiem trabalhos como o meu, trabalhos artísticos e educacionais em plataformas impressas e digitais que ajudariam  no aceleramento do aprendizado, divertimento e conscientização ecológica. Na maioria dos casos, não sou bem recebido por empresas quando peço ajuda, não sou bem recebido quando peço patrocínio, não sou bem recebido quando ofereço minha arte para instituições do governo, não sou bem recebido quando peço para um grande veículo de imprensa me ajudar a divulgar minhas publicações. Apesar de eu ter meus desenhos publicados em jornais e revistas do Brasil, Moçambique, Inglaterra, EUA e Canadá; de ter livros e revistas com minhas histórias publicadas com muito esforço no mercado editorial independente brasileiro, nem sempre sou bem recebido, e vejo o mesmo acontecer com outros artistas e professores que trabalham com o temas ecológicos e culturais para crianças. Essa situação reforça a minha conclusão: os donos do poder e das empresas são analfabetos, analfabetos em ecologia, analfabetos perante o ar que respiram.

Excelentíssimo Sr. Ban Ki-Moon, peço a sua ajuda. Ajude a educação ambiental, ajude a arte pop ambiental, ajude os professores e escolas que trabalham heroicamente em prol do conhecimento ecológico no mundo. Precisamos mudar as pessoas para melhorar o mundo e salvar o planeta.

 

Peço a sua resposta.

Atenciosamente,

Fernando Rebouças

Desenhista, escritor e editor

Rio de Janeiro – Brasil.

 

 

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Tartaruga de duas cabeças

No mês de setembro de 2013, aconteceu algo que me intrigou profundamente. O nascimento de uma tartaruga de duas cabeças. O animal nasceu no mês de junho no Zoológico de San Antonio, nos Estados Unidos, e sua existência foi largamente noticiada nos meses seguintes. O bicho recebeu o nome de Thelma e Louise em homenagem às personagens do filme homônimo de 1991.

Fonte: G1

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